É Pecado Comer Carne de Porco?
Os que defendem a abstinência de carne de porco apresentam
dispositivos da Lei do Antigo Testamento, como a seguir:
“Também o porco, porque tem unhas fendidas... este vos será
imundo; da sua carne não comereis...” (Lv 11.7-8).
“Nem porco, porque tem unhas fendidas... imundo vos será; não comereis...” (Dt
14.8).
“Os que se santificam e se purificam nos jardins uns após outros, os que comem
carne de porco, e a abominação, e o rato juntamente serão consumidos, diz o
Senhor” (Is 66.17; v. 65.4).
“Na revelação progressiva de Deus, mandamentos anteriores
são substituídos por posteriores. Em questões que não envolvem alteração em
nenhum padrão moral intrínseco (que é baseado na natureza de Deus), o Senhor
tem a liberdade de alterar os mandamentos que ele deu às suas criaturas, de
forma a servir a seus propósitos gerais, dentro do processo de redenção. Por
exemplo, podemos comparar isso com os pais que, numa fase da vida de seus
filhos, deixam-nos comer com a mão, para mais tarde ensina-los a usar uma
colher. Posteriormente, ainda, eles instruem seus filhos a não mais usarem uma
colher, mas sim um garfo. Não há contradição alguma nesse processo” (Norman
Geisler).
“A lebre e o coelho (Dt 14.7) – Na Palestina, esses animais
alimentavam-se de ervas venenosas e morriam geralmente cobertos de vermes.
Barbatanas e escamas (v.9) - Esta proibição abrangia, sobretudo, os mariscos,
por se alimentarem de imundícies, tal como sucede com as aves mencionadas nos
versos de 12 a
18, que se deleitam com carnes em putrefação. As leis de hoje não permitem a venda
de animais, que não sejam abatidos em condições apropriadas e após exame
médico” (Novo Comentário da Bíblia). Os porcos estão incluídos no rol dos
animais que se alimentavam e se alimentam de coisas impuras, exceto os que são
criados em boas condições de higiêne. “Na avaliação dos cientistas,
pesquisadores e professores [que participaram do Zootec 2004, VI Congresso
Internacional de Zootecnia e o XIV Congresso Nacional de Zootecnia, em Brasília],
a alta tecnologia está transformando a suinocultura e trazendo resultados
surpreendentes. Para se ter uma idéia das mudanças, eles agora elevam o suíno à
categoria de indispensável na melhor qualidade de vida do homem. Hoje, a
maioria dos rebanhos no Brasil se desenvolve em locais de total confinamento,
longe das doenças e os animais são criados sobre o cimento limpo. A higiene é
tamanha que o pêlo cresce branco e a carne do porco adquiriu um tom róseo. Com
isso o consumidor tem à sua disposição no supermercado carne de excelente
qualidade e com elevada garantia sanitária”.
As proibições eram adequadas às condições daquela época. O
nível de conhecimento dos israelitas era muito precário. Não faziam distinção
entre animais puros e impuros. Não sabiam qual o tipo de alimento que poderia
causar dano à saúde. Hoje, conhecemos muito bem as razões por que não
consumimos carne de abutre (urubu), e sabemos que as carnes colocadas à venda
precisam ser fiscalizadas pelos órgãos competentes. Não faço apologia à carne
de porco. Analiso a questão de ser ou não ser pecado consumi-la.
Para que o mal fosse erradicado, muitos dos castigos
aplicados pela lei mosaica eram severos: apedrejamento de filhos rebeldes (Dt
21.21); apedrejamento de moça por falta de virgindade, conforme alegação do
marido (22.21); obrigação de um homem casar com a viúva do seu irmão (25.5);
tratamento dispensado aos leprosos (Lv 13-14).
Todavia, devemos buscar na própria Bíblia as razões pelas
quais estamos desobrigados de prestar obediência a essas recomendações.
A Nova Aliança em Cristo está confirmada em melhores
promessas. É muito superior à anterior. “Se aquela primeira fora
irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para a segunda; porem as minhas
leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei; serei misericordioso
para com suas iniqüidades; dizendo Nova Aliança, envelheceu a primeira. Ora, o
que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar” (Hb 8.6,10,13).
Em Roma, não havia entendimento entre os crentes: alguns
entendiam que deveriam comer só legumes; outros, além de legumes, comiam carne.
O apóstolo não condenou nenhuma das partes. Disse: “O que come não despreze o
que não come; e o que não come não julgue o que come; o que come, para o Senhor
come, porque dá graças a Deus; e o que não come para o Senhor não come e dá
graças a Deus” (Rm 14.3-6). “Paulo declara que o ato de comer, em si, não é
problema moral, mas a nossa atitude pessoal sobre o que se come pode levar ao
injusto julgamento de uns para com os outros” (Bíblia de Estudo Pentecostal -
BEP). Mais adiante, o apóstolo esclarece que “nenhuma coisa é de si mesmo
imunda, a não ser para aquele que a tem por imunda; mas aquele que tem dúvidas,
se come, está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é
pecado” (Rm 14.14,23).
O apóstolo esclarece que a lei de Moisés foi cravada na
cruz, isto é, abolida (Cl 2.14), não havendo, pois, motivo para sermos julgados
pelo que comemos ou bebemos, pelos dias de festa, de lua nova, ou dos sábados
(v.16). Diz também que as antigas ordenanças eram sombras das coisas futuras;
elas apontavam para o porvir.
“Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do
mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo,
tais como: não toques, não proves, não manuseies?” (Cl 2.20). A nossa salvação
não está condicionada ao cumprimento da lei. Nenhum homem jamais conseguiu
cumprir todas as ordenanças. Por isso, estávamos todos mortos em nossos delitos
(Rm 3.23), Deus estabeleceu o plano de redenção mediante o sacrifício de
Cristo: “Na Sua carne, desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que
consistia em ordenanças...” (Ef 2.15). Porque não estamos mais debaixo da lei,
e sim da graça, o pecado não tem domínio sobre nós (Rm 6.14).
Já não dependemos da Lei e dos sacrifícios do Antigo
Testamento para sermos salvos e aceitos diante de Deus. Os que vivem ainda
segundo a Lei, por ela serão julgados, e não terão a mínima chance de salvação.
Somos salvos pela graça, mediante a fé em nosso Senhor Jesus
Cristo, não pelas obras, pelo cumprimento dessa ou daquela ordenança (Ef
2.8-9). Agora, estamos livres da lei, para a qual morremos (Rm 7.6).
“Portanto, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus , que não
andam segundo a carne, mas segundo o espírito” (Rm 8.1).
Como foi dito no início deste trabalho, a revelação de Deus
é progressiva. Na aliança noética, logo após o dilúvio, Deus declara que “tudo
quanto se move, que é vivente, será para vosso mantimento; tudo vos tenho dado como
a erva verde”. A exceção era quanto à carne com seu sangue (Gn 9.3-4). Na lei
mosaica, o consumo de carne se torna mais seletivo. Não mais prevalece a
abertura dada a Noé para consumir qualquer espécie (Levítico 11 e Deuteronômio
14). A Nova Aliança em
Cristo Jesus nos exorta a uma vida plena na direção do
Espírito. A lei era indicativa das coisas futuras e serviu como “aio” ou tutor
do povo de Deus até que viesse a salvação pela fé em Cristo (Gl 3.23-25).
“Nessa função, a lei revelou a vontade de Deus para o comportamento do seu povo
(Ex 19.4-6; 20.1-17; 21.1 – 24.8), proveu sacrifícios de sangue para cobrir os
pecados (ver Lv 1.5; 16.33) e apontou para a morte expiatória de Cristo (Hb
9.14; 10.12-14). A lei foi dada para nos conduzir a Cristo a fim de sermos
justificados pela fé (Gl 3.24). Mas agora que Cristo já veio, finda está a
função da lei como supervisora (v.25). Por isso, já não se deve buscar a
salvação através das provisões do antigo concerto, nem pela obediência às suas
leis e ao seu sistema de sacrifícios. A salvação, agora, tem lugar de
conformidade com as provisões no novo concerto, a saber, a morte expiatória de
Cristo, a sua ressurreição gloriosa e o privilégio subseqüente de pertencer a
Cristo (vv 27-29)” (BEP).
Falando sobre a nova vida debaixo da graça e sobre a
rejeição dos judeus à justiça de Deus, o apóstolo declara que “o fim da lei é
Cristo para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10.4). Então para que a lei?
Ele mesmo responde: “Foi ordenada por causa das transgressões, ATÉ que viesse a
posteridade a quem a promessa tinha sido feita” (Gl 3.19). E como opera a lei
de Cristo? “Porque toda a lei se cumpre numa só palavra: Amarás o teu próximo
como a ti mesmo” (Gl 5.14).
Dito isto, lembremo-nos das palavras do apóstolo. Se a minha
atitude servir de escândalo aos irmãos, deixarei de comer carne de porco, ou de
fazer qualquer coisa que me pareça lícita e não pecaminosa. Que a nossa
liberdade não seja de alguma maneira escândalo para os fracos (Gl 8.9). Aqueles
que, pelo seu exemplo, levam outros ao pecado e à ruína espiritual pecam, não
somente contra aquela pessoa, mas também contra o próprio Cristo: “Pecando
assim contra os irmãos e ferindo a sua fraca consciência, pecais contra Cristo.
Pelo que, se o manjar escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne, para
que meu irmão não se escandalize” (vv 12-13).
Finalmente, a questão da carne de porco e de outras
ordenanças da antiga lei foi resolvida há dois mil anos, na primeira
conferência deliberativa, em Jerusalém. Anciãos e apóstolos se reuniram para
decidir se a circuncisão e a obediência à lei de Moisés eram necessárias à
salvação em Cristo. Os
conferencistas, guiados pelo Espírito Santo, concluíram que os gentios eram
salvos pela graça do Senhor Jesus, concedida ao que se arrepende do pecado e
crê em Cristo como Senhor e Salvador (v.Rm 10.9). A carta enviada aos irmãos em
Antioquia, através de Judas e Silas, resumiu a decisão tomada:
“Na verdade, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor mais encargo
algum, senão estas coisas necessárias: Que abstenhais das coisas sacrificadas
aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação; destas coisas
fareis bem se vos guardardes” (At 15.28-29). A resolução estabeleceu limites e
possibilitou a “convivência harmoniosa entre cristãos judaicos e seus irmãos
gentios”.
PASTOR: CLEITON
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