O inferno é uma realidade mesmo que você não creia!
A Bíblia não se ocupa em discorrer sobre a anatomia do inferno como
alguns autores contemporâneos se arriscam a fazer em nome de uma suposta divina
revelação, mas se propõe a nos ensinar sobre sua realidade e suas mais
relevantes características. O inferno não é um mito criado pelos escritores
bíblicos, é antes, um lugar e estado de sofrimento ininterrupto e pleno sob o
qual padecerá todos quantos não forem regenerados pelo sacrifício vicário de
Cristo.
Antes de iniciarmos uma reflexão ou debate mais profundo acerca deste
momentoso tema, se faz necessário introduzirmos algumas idéias de grande
relevância. Primeiro, é necessário que os leitores da Bíblia compreendam que há
uma larga diferença entre o que a Bíblia diz e o que ela revela com o que diz.
Por exemplo, a Bíblia diz que Elias orou sete vezes, pela sétima seu servo viu
uma pequena nuvem, com isso Elias parou de orar e entendeu que suas petições
haviam sido atendidas. Ao contrario do que muitos dizem sobre o misticismo do
número sete, Elias ensina-nos com sua experiência que devemos orar com
perseverança até recebermos as respostas que almejamos de Deus.
Em outro texto não muito distante desse, o autor de 2 Reis nos dirá que
o arrogante general da Síria Naamã, foi purificado de sua lepra após mergulhar sete
vezes no rio Jordão. Lendo o texto de 2 Reis 5 por inteiro, veremos que Naamã
rejeitou a principio as palavras de Elizeu, mas dissuadido de sua posição
orgulhosa, obedeceu as palavras do profeta. Este episódio interpretado
hermeneuticamente, diz-nos que há milagres recebidos pela obediência, ou seja,
quando abrimos mão de qualquer orgulho e resolvemos obedecer às palavras de
Deus, podemos ser restaurados. Essa é a lição do texto. Essa passagem bíblica
de modo nenhum objetiva revelar um suposto poder advindo do número sete.
Assim também a Bíblia procede em outras passagens e em outras temáticas.
A Bíblia chama Jesus de cordeiro, mas não devemos esperar encontrar no céu o
Salvador em forma de cabrito. Ao chamar Jesus de cordeiro a Bíblia identifica-o
com a natureza do seu sacrifício tal como os cordeiros que eram sacrificados no
templo. Em outro texto a Bíblia diz-nos que o povo de Israel sairia em paz e
seria guiado em paz e por onde passasse as árvores dos bosques lhes bateria
palmas. Obviamente, essa afirmação não é literal. O significado desse texto é
que a fidelidade de Israel faria com que aonde ele chegasse fosse reverenciado
pelos demais povos e favorecido pela natureza.
Dada
essa palavra, voltemos ao tema deste capítulo.
A Bíblia, em especial o Novo Testamento, fala largamente sobre a
existência do inferno defendendo sua realidade e até definindo em termos gerais
sua natureza. Para iniciarmos uma reflexão sobre o inferno precisamos dizer que
as versões bíblicas em língua portuguesa não chamam de inferno apenas o lugar e
estado para onde irão os condenados conjuntamente com os demônios; chama também
de inferno a morada de todos os mortos e ainda denomina como inferno o estado
de minimização de poder que os demônios sofreram quando abandonaram seu
ministério angelical no céu. Entretanto, o texto sagrado grego atribui outros
termos aos que nossas versões chamam de inferno. Há três palavras diferentes
com significados distintos, discorreremos sobre cada uma delas e examinaremos vários
textos no afã de encontrar os melhores sentidos para o tema em pauta.
Sei que até aqui a compreensão do leitor pode não ter ainda alcançado a
linha de raciocínio proposta. Para clarearmos propomos alguns exemplos:
Em Mateus 5. 22 lemos: “Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem
motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir
um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe
chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo.” (grifo meu).
Nesse texto a palavra traduzida como inferno é Geena e para o
significado que comumente empregamos é a mais correta “Geena” ou “Geena de
fogo” traduz-se como inferno, isto é, o lugar da punição futura por causa das
características semelhantes que envolvem ambas as coisas. Foi uma palavra que
Jesus usou diversas vezes em seus discursos para explicar com pertinência a
natureza cruel e humilhante do lugar para onde os ímpios serão sentenciados por
toda a eternidade.
Historicamente falando, Geena nomeava, originalmente, o vale de Hinnon,
ao sul de Jerusalém. Nos tempos veterotestámentarios, quando o paganismo
invadiu as práticas de culto do povo israelita, iniciou-se a prática pagã de
sacrifícios humanos. No lugar chamado de “vale de Hinnon” havia uma saliência
usada como altar. Diz-se que ali muitos pais seguravam seus filhos pelos pés e
perfurava-lhes o pescoço; enquanto os demais participantes daqueles cultos
tocavam seus tambores atrás daqueles adoradores de Moloque, ensurdecendo desse
modo os pais.
O barulho produzido pelos tamboristas era tão alto que os pais eram
impedidos de ouvir os gritos e choros de seus filhos. É sabido que com o passar
do tempo, o vale que talvez pertencesse a uma família de sobrenome HINNON
tornou-se o depósito e incinerador do lixo de Jerusalém. Lançavam-se ali
cadáveres de animais para serem consumidos pelo fogo, aos quais se acrescentava
enxofre para ajudar na queima.
Também se lançava ali cadáveres de criminosos executados, considerados
imerecedores de um sepultamento decente num túmulo memorial. O relato dos
evangelhos revela que após a morte de Jesus por crucificação, José de Arimateia
pediu a Pilatos permissão para remover e sepultar o seu corpo. Isso ocorreu
porque Jesus foi assassinado como um malfeitor aos olhos das autoridades civis
e religiosas da época. Caso José de Arimateia não houvesse recebido permissão
para remover e sepultar o corpo de Jesus, as autoridades intencionavam jogar
seu corpo na Geena, isto é, no aterro sanitário de Jerusalém.
Quando os cadáveres caiam no fogo, eram consumidos por ele, mas, quando
os cadáveres caiam sobre uma saliência da ravina funda, sua carne em putrefação
ficava infestada de vermes, que não morriam até terem consumido as partes
carnais, deixando somente os esqueletos. Pela determinação do rei Josias em
seus dias nenhum animal ou criatura humana viva deveria se lançado na Geena
para serem queimados vivos ou atormentados.
Geena é uma comparação adequada para descrever o perverso e sua situação
futura. Geena então não é em si mesma o inferno, mas é a mais clara metáfora
para ele. A seguir veremos que não foi debalde que Jesus utilizou-se dessa
palavra para falar do destino eterno dos impenitentes.
Dada esta explicação tratemos sobre a natureza do inferno. Preciso
voltar a dizer que há uma larga diferença entre o a Bíblia diz e o que ela quer
revelar com o que está expresso. Sempre que o Novo Testamento trata sobre o
inferno, ele se utiliza de termos como fogo, choro, ranger de dentes, lugar
onde o bicho nunca morre e trevas espessas essa linguagem visa alcançar a
compreensão humana para a realidade sofredora do inferno. Os termos mencionados
não devem ser entendidos como literais, mas sim como figurados por algumas
questões lógicas e óbvias.
FOGO
A maior ação provocada pelo fogo é alterar a forma natural das coisas.
Ao usar a figura do fogo para descrever o inferno, Jesus dá-nos a entender que
o homem que for condenado será destituído de todas as características das quais
se orgulha, como: beleza, sensualidade, aparência desejável ou pujança.
Jesus se utilizou da linguagem da Geena como vimos estudando na
introdução deste capítulo, para invocar a natureza sofredora do lugar para onde
irão os que perecerem sem Deus. A figura do Geena retrata humilhação uma vez
que somente os desonrados eram jogados lá. O inferno é sem dúvida, um lugar e
estado de humilhação eterna. O inferno traça um claro contraste com a vida na
terra.
No mundo os que criam suas próprias regras e não se submetem aos
parâmetros divinos parecem ser os que mais se destacam com honra. O inferno é
um lugar em que não há nenhum espaço para se criar nenhuma regra que seja
aparentemente interessante. É lugar de desonra, solidão, indignidade e reclusão
perpétua.
Outra imagem representada pela Geena é a ideia de morte. Morte não é
apenas a ausência de vida, morte é a inaptidão para participar de qualquer obra
útil. No inferno não há vida ativa, só existência agonizante. Isso dá-nos a
ideia de impotência. Os corpos lançados na Geena exalavam odor repugnante para
os demais, por isso, ninguém apreciava estar lá. No contexto empregado por
Cristo em que Geena é o símbolo da perdição, os perdidos condenados sofrerão o
abandono e a solidão eterna, sem ninguém para compartilhar suas dores ou
entreter.
A figura do fogo trás a mente um elemento que destrói, que machuca e que
altera a forma original das coisas. Assim como os mais belos, luxuosos e caros
objetos são destruídos e reduzidos à cinzas pela ação do fogo, o estilo de vida
fútil carregado de prazer pecaminoso será completamente extirpado no inferno.
CHORO
Chorar é o modo como expressamos nossa dor, frustrações, angústias e
agonias. Obviamente não haverá no inferno o choro literal, por uma questão
bastante lógica: o liquido expelido no choro adentra ao organismo humano pelo
banho, ingestão de água ou de outros líquidos. No inferno não se espera que
exista água, logo o choro será inexistente. Entretanto, é claro que quando
Jesus mencionou o inferno como um lugar de choro, ele estava falando de um
estado em que as emoções estão extremamente aguçadas a ponto de o sofrimento
ser intenso ao máximo. Um sentimento de remorso por ter usado
inconvenientemente as oportunidades que teve; uma convicção plena de não ter
mais saída ou solução de se inverter aquele estado.
O sofrimento experimentado no inferno deverá ser inexprimível, pois os
que ali estiverem cativos reconhecerão a justiça de Deus que pune com seu
máximo rigor. Atrevo-me a conjecturar que os que estiverem sendo punidos não
odiarão a Deus nem ao Diabo, mas odiarão a si mesmos por terem resistido a Deus
e dado ao Diabo o governo de suas vidas. Isso lhes corroerá a consciência que
não será apagada por toda a eternidade.
RANGER
DE DENTES
Esta expressão equivale a ideia de dor ou agonia. Quando alguém vem a
ranger os dentes a dor é no mínimo insuportável. Tal como as expressões
anteriores, essa também é figurada para explicar sensações agonizantes. Defendo
que seja uma expressão figurativa pelo fato irrefutável que as almas não têm as
mesmas estruturas corporais que temos aqui, enquanto residimos no corpo.
Para desempenhar atividades ligadas a alimentação, se faz necessário a
presença e uso da arcada dentária, o que é absolutamente dispensável aos corpos
espirituais dos que forem para as regiões infernais. Principalmente por essa
razão, o termo “ranger os dentes” foi usado por Cristo para traduzir a ideia de
sofrimento incontrolável. Sim é neste sentido que o Senhor empregou a expressão
e é justamente esse sofrimento incontrolável que as almas impenitentes
padecerão eternamente.
LUGAR
ONDE O BICHO NUNCA MORRE
Acredito ser desnecessário empreender alguma explicação sobre os termos
em pauta, visto que eles também são termos peculiares da associação entre o
lugar de tormentos eternos e a figura da Geena. Mas vou arriscar uma breve nota
sobre o assunto. Pelo termo “lugar onde o bicho nunca morre” entende-se como
sendo um lugar de desconforto extremo.
Sabe-se que um lugar propício para os bichos ou vermes é um ambiente de
muita e contínua sujeira. Esse tipo de ambiente é o retrato nítido de um lugar
de desconforto, um recinto assim é inadequado para alguém se sentir bem. Um
ambiente desses é extremamente impróprio para a existência humana. No uso dessas
comparações Jesus enfatiza a realidade degradante e desconfortável da habitação
eterna dos que perecerem.
ENXOFRE
E LAGO DE FOGO
Como vimos na introdução deste capítulo, era posto enxofre para
facilitar a queima do lixo e higienização dos demais elementos fétidos que
jaziam no incinerador de Jerusalém. O uso desse mineral (o enxofre) nos textos
que falam sobre o inferno é usado unicamente objetivando chamar a atenção para
a figura que Cristo insistentemente invocou em seus discursos quando tratou
sobre a realidade eterna dos impenitentes que receberão a ira divina com todo o
seu rigor após terem passado pelo juízo de Deus.
Essa mesma figura surge novamente em Apocalipse 20.14,15/21.8. Nos
textos de Apocalipse Lago de fogo pode ser interpretado como um estado da alma,
que pela sua distância de Deus e do gozo celestial padece a segunda morte.
Outra interpretação cabível nestes textos é a plena inatividade dos
elementos morte e inferno. A ideia de que no inferno haverá enxofre reside no
fato de que Jesus intencionava associar o papel no enxofre na Geena à presença
de outros elementos com igual potencial de fomentar a atividade sofredora do
inferno, ou seja, na Geena o enxofre servia principalmente para intensificar a
queima e com isso garantir que se cumprisse o objetivo daquele aterro
sanitário.
Em outras palavras, ao usar a figura do enxofre para abordar a pena
eterna dos impenitentes, Jesus queria afirmar que a todo o sofrimento
prefigurado no fogo, no choro, no ranger de dentes, etc. seria acrescido outros
fatores que intensificará ainda mais toda dor e todo sofrimento.
Outras figuras emergem das páginas das Escrituras sobre a punição eterna
dos condenados. Por exemplo, Jesus falou do inferno como sendo um lugar de
trevas espessas , caracterizando-o como um calabouço ou lugar de tortura.
A
REALIDADE DO INFERNO
Sei que não posso encerrar todo o sentido do tema, mas gostaria de
chamar a atenção do leitor para alguns textos e interpretá-los de modo que
revelem a natureza real desse lugar de tormentos perpétuos.
Segundo o texto
de Lucas 16.23, o inferno é um lugar de plena consciência. O texto destaca
algumas verdades e esclarece algumas questões como: recordações da vida que
levou na terra, arrependimento pelas obras erradas que foram cultivadas,
afetividade ainda aguçada, desejo de uma nova chance. As pessoas que forem
viver sua eternidade no inferno terão que conviver eternamente com essa dura
realidade.
O inferno é,
segundo Mateus 18.9 um lugar onde os sentidos estarão aguçados para perceberem
e viverem sofrimentos invisíveis e indeléveis pela eternidade. Talvez aqui
surja uma questão: como os sentidos estarão aguçados se serão as almas e não os
corpos que padecerão no inferno? Na verdade muitos textos no Novo Testamento
sugerem ou declaram que no último Dia haverá uma ressurreição de todos os
mortos, absolvidos e condenados.
Esse argumento
tem apoio bíblico: “não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos
os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o
bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a
ressurreição do juízo .” Perceba que todos ressuscitarão. Essa ressurreição é
universal e ao que parece envolve duas áreas: física e espiritual. Assim como
os ressurretos santos receberão corpos como o dos anjos para gozarem dos
prazeres eternos, obviamente os mortos perversos receberão algum tipo de corpo
ressurreto no qual serão atormentados para sempre.
QUEM É CANDIDATO
AO INFERNO?
• Os que fazem
pouco caso de Deus – Sl 9.17;
• Os adúlteros – Pv. 5.5;
• Aqueles que fazem de suas vidas uma existência inútil para Deus – Mt. 3.12;
• Os que se recusam se arrepender de seus delitos contra Deus – Mt. 11.23;
• Aqueles cuja pregação não condiz com a vida que levam – Mt. 23.15,23;
• Todos aqueles que insistem em não perdoar aos que lhe fazem mal – Mt. 18. 34-35;
• Os egoístas que não se importam com as dores alheias – Mt. 25. 31-46;
• Aqueles que preferem viver pelos padrões que Deus despreza – Ap. 21.8;
• Os adúlteros – Pv. 5.5;
• Aqueles que fazem de suas vidas uma existência inútil para Deus – Mt. 3.12;
• Os que se recusam se arrepender de seus delitos contra Deus – Mt. 11.23;
• Aqueles cuja pregação não condiz com a vida que levam – Mt. 23.15,23;
• Todos aqueles que insistem em não perdoar aos que lhe fazem mal – Mt. 18. 34-35;
• Os egoístas que não se importam com as dores alheias – Mt. 25. 31-46;
• Aqueles que preferem viver pelos padrões que Deus despreza – Ap. 21.8;
ADVERTÊNCIAS AOS
QUE NÃO QUEREM IR PRA O INFERNO:
1) É melhor
abri mão de coisas importantes, necessárias e insubstituíveis do que abri mão
de coisas eternas – Mt. 5.29-30;
2) Procuremos fazer a vontade de Deus ainda que ela seja muito difícil e
ainda que para vivê-la tenhamos que sofrer – Mt. 7.13-14;
3) (MÃO) Se as nossas ações desagradam a Deus, é melhor que abramos mão
delas, pois é melhor deixar de satisfazer a si mesmo do que ser condenado ao
inferno; (PÉS) se os lugares para onde costumamos ir, nos fazem ser
desagradáveis a Deus, é melhor que deixemos esse hábito, pois é melhor perder
hábitos que gostamos do que ganhar ingressos para o inferno; (OLHOS) se as
coisas em que nossa atenção se foca, não agradam a Deus, é melhor que mudemos
nosso foco, pois é melhor não se interessar pelo que a maioria das pessoas se
interessa do que ser igual a todo mundo e mesmo assim ser condenado ao inferno
– Marcos 9.43-48;
TÁRTARO
Já em 2 Pedro 2.4-10a diz: “Ora, se Deus não poupou anjos quando
pecaram, antes, precipitando-os no inferno, os entregou a abismos de trevas,
reservando-os para juízo; e não poupou o mundo antigo, mas preservou a Noé,
pregador da justiça, e mais sete pessoas, quando fez vir o dilúvio sobre o
mundo de ímpios; e, reduzindo a cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra,
ordenou-as à ruína completa, tendo-as posto como exemplo a quantos venham a
viver impiamente; e livrou o justo Ló, afligido pelo procedimento libertino
daqueles insubordinados (porque este justo, pelo que via e ouvia quando
habitava entre eles, atormentava a sua alma justa, cada dia, por causa das
obras iníquas daqueles), é porque o Senhor sabe livrar da provação os piedosos
e reservar, sob castigo, os injustos para o Dia de Juízo, especialmente aqueles
que, seguindo a carne, andam em imundas paixões e menosprezam qualquer
governo.(grifo meu).
Vejamos este mesmo texto na Bíblia de Jerusalém:
“Com efeito, se Deus não poupou os anjos que pecaram, mas lançou-os nos
abismos tenebrosos do Tártaro, onde estão guardados à espera do Julgamento, nem
poupou o mundo antigo, mas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios,
preservou apenas oito pessoas, entre as quais Noé, o arauto da justiça, e se,
como exemplo do que havia de sobrevir aos ímpios, condenou à destruição as
cidades de Sodoma e de Gomorra, reduzindo-as a cinzas, enquanto livrou o justo
Ló, deprimido com o comportamento dissoluto daqueles perversos porque esse
justo, que morava entre eles, afligia diariamente a sua alma justa com as obras
iníquas que via e ouvia —, é certamente porque o Senhor sabe libertar os
piedosos da tentação e reservar os injustos sob castigo à espera do dia do
Julgamento, sobretudo aqueles que seguem a carne, entregando-se a paixões
imundas, e que desprezam a autoridade do Senhor”. (grifo do autor).
Um texto bem parecido aparece em Judas 6:
“aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua
própria habitação, ele os tem reservado em prisões eternas na escuridão para o
juízo do grande dia.”
Então, devemos acreditar que exista um inferno para os demônios e outro
para os homens ímpios? Ou devemos aceitar que os demônios estão todos presos?
Ou ainda que existam demônios piores que outros e que por isso alguns estão presos
e outros soltos?
A versão da Bíblia de Jerusalém é bem mais clara e por isso lança uma melhor percepção da mensagem que este texto quer enfatizar. Mas o que vem a ser o Tártaro? Ora a compreensão desta palavra exige que retrocedamos a Grécia antiga e revejamos sua mitologia, onde Tártaro era o nome que os antigos usavam para descrever o que eles chamavam de ‘o abismo mais profundo do inferno. ’
A versão da Bíblia de Jerusalém é bem mais clara e por isso lança uma melhor percepção da mensagem que este texto quer enfatizar. Mas o que vem a ser o Tártaro? Ora a compreensão desta palavra exige que retrocedamos a Grécia antiga e revejamos sua mitologia, onde Tártaro era o nome que os antigos usavam para descrever o que eles chamavam de ‘o abismo mais profundo do inferno. ’
o Dicionário de Mitologia Grega e Romana assim se refere a tártaro: “o
Tártaro, cujo nome não é senão uma displicente onomatopeia representava, no
centro da terra, a prisão dos rejeitados. ” Ao empregar este termo, Pedro
estava destacando a rejeição de Deus pelos demônios. A palavra usada pelo
tradutor é inferno enquanto que no grego original é tártaro que na cultura e
compreensão dos gregos era o abismo mais profundo do inferno, enquanto para os
judeus era o mesmo que a Geena.
Não seria sensato, pensar que a expressão de Pedro “os entregou a
abismos de trevas” significa a condenação dos demônios ao inferno, uma vez que
em seguida o apóstolo diz: “reservando-os para juízo”. A sentença não pode
preceder ao julgamento. Mas o texto deixa claro que “entregar os demônios a
abismos de trevas” foi o modo como Deus quis “reservá-los para o juízo”. Dessa
forma, ao entregá-los a abismos, Deus minimizou seu poder, limitou sua atuação
e reduziu as atribuições do querubim ungido que lhe fora outorgado quando, no
princípio foi criado.
Nós sabemos que tanto no texto referido em 2 Pedro como em Judas 6 o
tempo da condenação é presente, mostrando com isso que eles já estão presos o
que bem sabemos que não é verdade, não literalmente. Os textos em análises
deixam-nos a seguinte mensagem: que os anjos que pecaram foram sentenciados ao
juízo, destituídos do poder que tinham e expulsos do seu domicílio.
O leitor pode dizer que os demônios atuam com tanta eficiência no tempo
presente que não tem como duvidar que eles tenham poder. Mas devemos dizer que
o poder deles fora minimizado por Deus. Pois a palavra “algemas” que aparece em
Judas 6 sugere que há uma prisão em que estão, enquanto que a palavra
“guardado” no grego é tereo (τηρεω) palavra comumente usada em forma de
metáfora significando “manter alguém no estado no qual ele está”. Ora eles
estão mantidos atuantes, porém em escala minimizada de poder. É o mesmo caso
que surge em Apocalipse 20 onde nos assegura o texto que satanás foi preso.
E nós, amilenistas, acreditamos que satanás está verdadeiramente preso.
Mas isso pode parecer ilógico, insano. Como satanás estaria preso se a cada dia
que passa seu domínio cruel aumenta sobre o mundo? O autor do Apocalipse foi
cuidadoso quando esclareceu que satanás fora preso “para que não mais enganasse
as nações”. Neste sentido ele está aprisionado. Para esta finalidade ele está
inoperante .
Concluímos então que em se referindo aos demônios, o tártaro é a
diminuição das forças satânicas no período entre as duas vindas de Cristo a
terra. O sentido grego dessa palavra também abrange a rejeição punitiva para os
maus e castigo para os ímpios, todavia os autores bíblicos optaram por não se
utilizaram deste termo para se referirem à pessoas, deixando claro, com isso,
que há distinção entre o inferno dos homens que é o lugar de punição eterna e o
tártaro dos demônios que é muito mais um estado do que propriamente um lugar.
HADES
OU SHEOL
Bem estes vocábulos são por demais difíceis de interpretar. A depender
do contexto, o significado pode variar muito. Sheol é um termo hebraico usado
tipicamente para designar sepultura, mas há outras designações no Velho Testamento
para essa palavra. A mesma regra de variação na interpretação vale para o
vocábulo grego hades presente em algumas passagens do Novo Testamento. Essas
palavras surgem em vários textos trazendo consigo significados distintos e
variados. Vejamos abaixo alguns exemplos.
Sheol
como sepultura
Em salmos 139.8: “Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no
mais profundo {sheol}, lá estás também;” Neste texto o significado mais cabível
seria sepultura, uma vez que o autor está falando de instâncias físicas, de
lugares distantes ou próximos onde a mão divina o guiaria e sustentaria. Esse
argumento pode ser mais bem aceito quando notamos que os demais lugares
mencionados pelo salmista são todos físicos. Ele fala do céu, mares, ambientes
escuros e claros.
Em salmos 49.14 lemos: ”Como ovelhas são postos no {sheol}; a morte é o
seu pastor; eles descem diretamente para a cova, onde a sua formosura se
consome; a sepultura é o lugar em que habitam”. Do mesmo modo que o texto
anterior, aqui sheol também quer dizer sepultura. Isso é visto claramente na
comparação que o salmista faz entre o homem e a ovelha mostrando que a morte é
uma consequência inevitável da existência de todo ser vivo racional ou não.
Sheol como lugar de punição e condenação eterna
No salmo 9.17, volta a aparecer o termo sheol, desta vez para designar o
lugar onde os ímpios e aqueles que fazem pouco caso de Deus perecerão
eternamente, ou seja, o lugar para onde os ímpios são enviados para castigo. O
texto diz: “Os perversos serão lançados no {sheol}, e todas as nações que se
esquecem de Deus.” Vê-se aqui um indubitável exemplo de castigo e punição.
Percebe-se aqui que a causa da ida destes indivíduos e nações para o sheol é o
fato de eles serem ímpios e se esquecerem de Deus, por isso serão castigados.
Outra vez a palavra sheol surge expressando uma promessa de punição para
o povo impenitente. Desta feita em Oséias 13.14: “Eu os redimirei do poder do
{sheol}; eu os resgatarei da morte. Onde estão, ó morte, as suas pragas? Onde
está, ó sepultura, a sua destruição?”
“As duas primeiras frases são perguntas retóricas que exigem uma resposta negativa: “Eu os remirei do poder do {sheol}? Não. “Eu os resgatarei da morte? Não. As duas frases seguintes chamam a morte e o inferno para lançarem seu poder contra Israel.”
“As duas primeiras frases são perguntas retóricas que exigem uma resposta negativa: “Eu os remirei do poder do {sheol}? Não. “Eu os resgatarei da morte? Não. As duas frases seguintes chamam a morte e o inferno para lançarem seu poder contra Israel.”
Sheol como hipérbole representando desesperança ou consequências
funestas
Em Jonas 2.1,2 a mesma palavra aparece trazendo um sentido diferente:
“Então, Jonas, do ventre do peixe, orou ao SENHOR, seu Deus, e disse: Na minha
angústia, clamei ao SENHOR, e ele me respondeu; do ventre do {sheol}, gritei, e
tu me ouviste a voz.” Aqui a lógica do contexto não nos deixa entender outra
coisa senão que o profeta está usando de hipérbole para designar a
impossibilidade de voltar a viver. Um homem numa situação como a que Jonas
esteve, deve naturalmente duvidar da possibilidade de voltar à existência.
O sheol de Jonas pode ser traduzido como o abismo da desesperança e da
angústia. Não acho que seja correto relacionar este abismo ou sheol com o
abismo das profundidades do mar, uma vez que o profeta não pôde determinar à
quantos metros estava dentro do mar. Outra coisa é que em determinadas épocas
do ano, baleias e peixes de grande porte, escolhem as águas mais rasas para
acasalar e desovar.
Em provérbios 7.27 o texto bíblico se expressa com essas palavras: “A
sua casa é caminho para o {sheol} e desce para as câmaras da morte.” Esse texto
traduz sheol por sepultura na versão Almeida Revista e Atualizada, contudo pelo
contexto implícito nos parece melhor interpretar sheol por consequências
funestas. Desse modo o texto ganharia o seguinte significado: “a casa da mulher
adúltera é caminho que conduz às consequências funestas por isso pode conduzir
a morte.” Talvez essa seja a melhor tradução para o texto em foco.
Sheol tem conotação de mau caminho, perdição e engano em Provérbios 5.5:
“Os seus pés descem à morte; os seus passos conduzem ao {sheol}.”
O hades como habitação ou estado de todos os mortos condenados e salvos.
Outra citação pertinente ao assunto em relevância é Atos 2.27 onde em
seu discurso Pedro recorre a um dos salmos messiânicos de Davi: “porque não
deixarás a minha alma no HADES, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção”.
Essa citação é referente a Jesus. Algumas escolas teológicas defendem que o
hades ou sheol é o lugar para onde irão apenas os que morrerem sem Deus.
Entretanto aqui o texto deduz-nos que Jesus ao morrer foi ao hades, como
um morto qualquer, mas não permaneceu lá porque seu corpo não viu corrupção, ou
seja, não experimentou decomposição. Claro que essa questão é estritamente
dependente do texto que se está consultando. Neste de Atos, o autor usa Hades
com conotação de sepultura, neste sentido, todos, incondicionalmente irão para
o mesmo lugar. Mas o texto quer dizer basicamente que Deus não permitiria que o
corpo de Jesus permanecesse separado de seu espírito.
Hades
como lugar de tormentos eternos
Em Lucas 16 Jesus conta a parábola do rico e de Lázaro, um mendigo que
vivia na mesma cidade do homem rico. Jesus falou sobre a vida que estes seres
financeiramente antagônicos viviam e por fim falou sobre suas mortes e o
destino que suas almas tomaram. O versículo 23 traduz hades para inferno. Lá o
texto expõe elementos como fogo e tormento, levando-nos a entender que aqui o
hades é uma figura da eterna punição dos homens maus.
Concluímos, pois entendendo que na leitura da Bíblia nas versões em
português se faz necessário uma análise para a palavra inferno. Entendemos
também que o inferno é uma realidade expressa na Bíblia de modo a fazer-nos
entender a essência da sua natureza para que vivamos uma vida que nos livre de
tê-lo como nosso destino eterno.
Tradicionalmente as igrejas cristãs que ainda conservam uma visão
ortodoxa da interpretação bíblica defendem a inexistência daquilo que algumas
seitas denominam de ‘sono da alma’ e sustentam a doutrina da lucidez da alma
após a morte e da instantânea posse do antegozo que os salvos passam a
experimentar imediatamente após sua entrada na eternidade (morte). É deveras
salutar continuar honrando essas doutrinas, uma vez que elas apresentam bons
argumentos e firme respaldo bíblico. Embora tenhamos tratado a questão do
inferno de forma bastante analítica ao levantar um pano de fundo histórico e
uma hermenêutica pouco ortodoxa, conservamos o desejo de jamais e de nenhum
modo adulterar a inerrante, inspirada, eterna e absoluta Palavra de Deus, sem a
qual nenhuma base é sólida e nenhuma autoridade é sustentável.
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